A automedicação pode parecer uma solução rápida, mas ela traz alguns perigos importantes. Quando você se automedica, corre o risco de usar medicamentos de forma incorreta, sem orientação médica, o que pode levar a efeitos colaterais indesejados, reações adversas ou até mesmo agravamento do problema de saúde.
O dia 5 de maio é lembrado como o Dia Nacional do Uso Racional de Medicamento, data criada para alertar a população sobre a necessidade da utilização correta de medicamentos, conforme orientação de profissionais da saúde.
O Imparcial conversou com o professor doutor Décio Gomes de Oliveira, delegado do CRF-SP (Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo) - Seccional de Presidente Prudente, para saber quais as consequências da automedicação.
Segundo Décio, o excesso de informações e as propagandas estimulam de modo alarmante o uso de medicamentos, considerando como medicamento todas as formas de apresentações - desde os alopáticos, fitoterápicos, plantas medicinais, entre outros. “Atualmente, o que muito nos preocupa é o uso massivo de vitaminas e suplementos, isto está claro que é pela facilidade da compra e também a chamada ‘empurroterapia’, onde muitos estabelecimentos estipulam metas de vendas que devem ser alcançadas. Falar em automedicação, é mostrar a necessidade de se moralizar o comércio de medicamentos por meio de uma prestação de serviços para a população que seja necessária e de forma ética. Os chamados medicamentos isentos de prescrição [MIP] são de venda livre, mas, quando da compra, tem que ter a orientação farmacêutica para garantir o uso racional”, afirma do delegado do CRF.
De acordo com Décio, a prática do uso de medicamentos sem a orientação de um profissional de saúde, como um médico ou farmacêutico, já caracteriza o risco. Ele ressalta que o problema é tão grave, que levou pesquisadores do ICTQ (Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade) a fazer uma pesquisa a qual revelou que, no Brasil, 86% dos entrevistados itiram tomar medicamentos sem orientação de um profissional da saúde. “Considerando ainda a pesquisa do ICTQ, também foi revelado que esse hábito afeta principalmente mulheres, pessoas economicamente ativas e com maior nível de instrução, o que pode acarretar sérias consequências para a saúde. A automedicação pode mascarar doenças graves e retardar o tratamento adequado, o que pode levar a complicações graves”.
A ingestão inadequada de medicamentos pode fazer com que o remédio perca o efeito, mas também pode afetar o organismo. Décio exemplifica: “Um usuário apresenta um quadro frustro [forma leve de uma doença], e se automedica com antibióticos. Neste caso, se diagnosticado, nem haveria necessidade do uso de antibióticos, e sem o diagnóstico correto e uso incorreto pode não sanar o problema e causar resistência dos micro-organismos. Hoje, por exemplo, temos cepas da tuberculose que são multirresistentes e esse fato leva à necessidade de desenvolver novos medicamentos. Além do mais, é comum nos depararmos com problemas que poderiam ser facilmente resolvidos se agravarem de modo drástico, como é o caso de quadro de peritonite, que teve evolução após a automedicação, que mascarou os sintomas iniciais de uma apendicite”.
Outro exemplo citado por Décio é o uso indiscriminado de antiácidos ao querer neutralizar a acidez estomacal, e, como consequência, afeta a secreção de uma substância denominada fator intrínseco, que é imprescindível para a absorção da vitamina B12. “E sabe-se que a deficiência de B12 leva ao desenvolvimento de quadros como danos à bainha de mielina, encontrada nos axônios dos neurônios/células nervosas, levando à neuropatia periférica, e até mesmo anemia do tipo megaloblástica”.
Décio informa que o Sinitox/Fiocruz (Sistema Nacional de Informações Tóxico Farmacológicas) recebe, por ano, milhares de notificações de casos de intoxicação devido ao uso incorreto de medicamentos e também por interação medicamentosa. “Uma situação que é preocupante, quando o usuário numa consulta, não informa ao médico os medicamentos que usa habitualmente, o que pode levar à interação e ao quadro de intoxicação. Outra situação alarmante é quando se faz uso do medicamento por indicação de vizinhos, parentes e amigos, e sempre é aquele medicamento, que como o dito popular – ‘excelente, vai te dar um sono gostoso’, é aí que mora o perigo”, alerta.
Décio afirma que o que impulsiona e favorece a automedicação é a facilidade de o aos medicamentos pela população, que em muitos estabelecimentos ficam expostos em gôndolas ou em destaque com promoções. “Neste caso, as farmácias ajudariam muito não expondo de forma comercial o medicamento que é para curar e do modo com que está sendo vendido pode levar a consequências graves. As farmácias são estabelecimentos de saúde e por este fato devem garantir aos clientes o uso racional dos medicamentos. O farmacêutico por ser o profissional que faz a dispensação ou a venda do medicamento, cabe a ele a responsabilidade da orientação e a sensibilização para a não automedicação”.
Décio ressalta que a população tem que ver o medicamento como droga, aquela que pode trazer o conforto com a cura ou malefícios pelo uso irracional. “As farmácias, sejam comerciais ou públicas nas Unidades Básicas de Saúde, são portas abertas para a população, então, em caso de necessidade e de dúvidas, a orientação é procurar um profissional farmacêutico e não usar medicamento sem orientação”, orienta.
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Delegado do Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo - Seccional de Prudente, professor doutor Décio Gomes de Oliveira